"Não te acostumes com o que não te faz feliz,
revolta-te quando julgares necessário.
Enche o teu coração de esperança, mas não deixes
que ele se afogue nela."
"Não te acostumes com o que não te faz feliz,
revolta-te quando julgares necessário.
Enche o teu coração de esperança, mas não deixes
que ele se afogue nela."
Estou destruída. O futuro, as minhas amizades, até mesmo minha família está a esmagar-me. Sou uma laranja madura que é expremida vezes e vezes sem conta por mãos diferentes umas das outras. Não há problema, ainda resta sumo dentro de mim, o único problema que existe é aquele que já se foi, o sumo que engoliram sem pensarem bem antes o porquê de o beberem. Eu só queria um mundo simples, ter funções de fruta que nunca é tocada, passar de flor a fruta, amadurecer, viver a minha melhor forma com sol ou chuva a cair sob mim, apodrecer e cair pacificamente no solo, quem sabe dar origem a novas frutas como eu mas o mundo é complicado e não há exceções, nem para mim. Sinto as laranjas ao meu redor afastarem-se de mim, fogem para o canto mais bonito da árvore que nos deu vida e é com cada vez menos frequência que regressam para o meu lado. As minhas obrigações familiares forçam-me a amadurecer mais cedo, não dá tempo para sentir o sol ou a chuva tentarem penetrar a minha casca mas não faz mal, nunca faz mal, eu percebo que são só circunstâncias da vida mas não deixa de doer menos. O futuro só existe mas provoca-me medo e esperança, pode tanto trazer o meu apodrecimento ou um maior aproveitamento da vida. No fundo o que eu preciso para me sentir melhor é ser eu mesma a expremer um bocadinho do meu sumo, deixar sair com ele a tormenta para ser uma fruta mais feliz, uma laranja que vive, que sente o sol e a chuva, que vê a beleza no ser e atrai o que lhe falta: confiança em si mesma, menos dependência dos outros e menos dependência dos outros nela.
A última vez que aqui escrevi foi provavelmente ainda no Verão, agora estamos quase no final do Outono. Considerava este espaço o meu pequeno diário, um diário que não me importava de expor à Internet, no entanto, num destes últimos meses reencontrei um diário meu de quando era criança, depois de lhe dar uma leitura reparei que só lá escrevia quando me dava na cabeça, quase de ano em ano, não tinha necessidade de escrever como o meu dia tinha sido ou que se passava comigo, até porque quando somos mais novos, crianças, antes da adolescência, nós saboreamos o momento sem pensar muito nele, fica ali na memória enquanto durar, quando crescemos (e eu cresci) tendemos, ou eu tendo, a escrever para me recordar, desabafar, para organizar a confusão do meu dia a dia, foi um dos motivos pelos qual iniciei este blog e um dos quais me fez desacelerar a quantidade de textos que escrevia aqui, comecei a escrever num diário de papel, só meu, onde consigo ser mais aberta sobre tudo o que eu quiser pois o meu conforto em partilhar coisas comigo mesma não é o mesmo que escrever numa página da web. Hoje quis escrever aqui outra vez, só porque não tenho razão nenhuma para escrever no meu diário de papel ultimamente. Tenho o mundo à porta, começa a ser tempo de o deixar entrar por isso quero guardar estas vivências em pequenos textos antes que me esqueça delas, alguns aqui, outros acolá.
Estou a viver num mundo de pernas para o ar. Tudo o que parecia impossível acontecer antes do Verão começar agora é a minha normalidade. A vida das minhas amigas está diferente, a minha vida está diferente, as nossas mentes estão diferentes. Todos os dias acontecem pequenos eventos que radicalizam o nosso futuro, certamente há três meses atrás não sabia que iria estar perto de saber o que é o amor, não sabia que iria dar o meu primeiro beijo, não sabia que escândalos quase que destruíam o meu círculo de amizade, não sabia que iria finalmente apostar em mim mesma, não sabia que iria ser mais feliz, mais minha, mais livre. Releio textos que escrevi anteriormente no blog e não me consigo relacionar com a rapariga que os escreveu. Três meses que se assemelham muito no seu íntimo a apenas três horas rescreveram o meu futuro. É engraçada a mudança, vem sempre quando não nos apercebermos dela, sorrateira como o Pai Natal quando entrega os seus presentes à meia noite na noite de Natal, ela mesma é o nosso Pai Natal da vida, entrega os seus brinquedos quando estamos a dormir ou pelo menos fingimos que estamos. Esta onda na qual mergulho agora eventualmente irá enrolar, rebentar e com o seu fim outra me receberá, não anseio por isso mas também não o rejeito. Só espero que a maré não se incline para um lado mais negro, ganhei afeições pelo seu lado mais claro, leve. É continuar a mergulhar, é continuar a mudar, a ser, esperar pelo próximo mundo de pernas para o ar já que este se normalizou.
Às vezes preciso de estar sozinha. Não dá vontade de sair, de pensar, de nada. Não dá vontade de ser todos os dias alguém. Quero não ser, quero estar. Sou todos os dias, tudo o que dura muito tempo acaba por cansar. Nós ficamos cansados de nós mesmos? Exaustos. Nem tudo precisa de ser mas tudo o será. Eu já nem sei. Sei? Não. Sim? Talvez. Quero ser o que eu preciso. Conseguirei? Incertamente serei. Desaparecer. Apagar o histórico. Recomeçar. Sou infinita. Um instante perante alguém. Serei? O Quê? Não sei. Solidão, fazes-me estremecer. Será? Acho que. Que sou eu? Sou o alucinar do meu mundo. Digo? Direi. Espiral sem fim. Ilusão da minha ilusão. Infinito do seu instante. Estou sozinha. Escolhi estar. Mas será mesmo? Complico o simples. O simples que aspiro. Será? Pode ser que. Estou distante da rapariga que ingressou ao mundo real à uns anos atrás. Estou distante de mim, do que fui. Como é que encontramos algo que não sabemos quando o perdemos? Como é que se volta a ter aquilo do qual tens saudades? Como é que recuperas algo de chama vazia, apagada, esquecida? Voltas a iluminar mas não é a mesma chama, nunca o será. A unicidade do tudo. Tragédia irreparável. Talvez não tanto tragédia. É lindo. Assustador. É crescer, perceber, renascer. O nascer de uma flor, maturação. Será? É complicado. Questões. Será que o amor dura para sempre? Que o mesmo amor que sentes hoje por alguém será o mesmo que sentirás deste dia a uma semana, um mês, dez ou mesmo vinte anos? Ou acreditas que o amor aumenta? Talvez aches que diminui, que nada dura tanto tempo, muito menos a emoção mais poderosa de todas: o amor. Será que algum dia teremos certeza de tal resposta? O amor é comum a todos nós mas também difere de significado de pessoa a pessoa. É real. Mas... Será? Sou real, sou uma ilusão. Sou. Posso não ser? (irás ser sempre)
Realmente é verdade, só aprendemos da pior maneira. Confiança. Acho que só agora é que percebi que não podemos nunca ter a certeza se devemos confiar em alguém ou não. A vida dá voltas e desta eu não estava à espera. É para isso que cá estou, ser surpreendida, aprender. Ensinaste-me a confiar e a perder a confiança. Irónico não é? Basta uma única pessoa em que te depositas-te quebrar a tua cega deposição para tu já não quereres voltar a fazer o mesmo. Já não volto a ser ingénua, é preciso ver as como elas são e tu já não me as mostravas com clareza. Fazes todos os anos parecerem só segundos, esses que não valem de muito. Talvez o desconhecido seja mais apto para ti mas acreditava mesmo que eu, o conhecido, é que era o certo para ti. Voltas e voltas mas parece que continuo sempre no mesmo lugar. Talvez precisava mesmo de um abrir de olhos, talvez estava tão cega que não enxergava a vida como ela o é, frágil, fácil de manusear. Conseguiste manusear a minha mas também me deste controlo dela. Acredito que todos merecem infinitas oportunidades mas a tua quota chegou ao fim. Custa, não o nego, porém às vezes para realmente vermos o verdadeiro potencial é preciso cortar alguns laços. Isto sou eu a cortar o meu contigo. Afinal de contas a vida dá voltas e por esta eu não estava à espera.
A vida é difícil mas sabem o que é mais difícil? Eu. É difícil lidar com uma mente como a minha todos os dias. É difícil continuar a tentar superar cada obstáculo que ela me impõe. É tudo psicológico, é tudo pior. Como lutar contra a tua própria consciência? Ninguém te treina para isso, não aprendes com erros ou lições do dia a dia. É a tal folha em branco que precisas de aprender a preencher e eu já não sei como me ensinar. Ser perfeccionista amplifica tudo ainda mais, é como se não existissem detalhes porque está sempre uma lupa a incidir neles que os torna tão grandes como tudo o resto. É com o que eu lido todos os dias em que me levanto, me deito. É mergulhar num vazio cheio de detalhes que me consomem. Porém eu tenho de voltar à superfície. Mergulhar e lá ficar não é opção. Afinal de contas tenho de viver porque sem isso não sou nada. Sou só os detalhes que me aterrorizam. Quero ser mais, eu juro que quero. Trabalho todos os dias para isso. Não deixa é de ser difícil. Quando olhas para alguém como olham para mim, não reparas nesse vazio em que mergulhamos nos seus olhos? Se me dizem que não é porque estão a mentir ou não estão realmente a ver. O mais difícil é acreditar que não sou única, não sou apenas eu que lido com um subconsciente instável. Somos todos nós. Seja com detalhes microscópicos ou não, estão sempre lá. Eu só lhes dou mais importância do que eles necessitam. Se ao menos... se ao menos.
Eu vejo, faço, descubro, sinto. Eu tento, desisto, recomeço, digo. Eu { }. Eu infinitas vezes. Eu agora, daqui a pouco, futuramente. Eu deslumbro, imagino, ouço, vivo. Eu relembro, guardo, disperso, acordo. Vejo o sorriso da minha mãe quando a maré da vida está em seu favor. Faço promessas que acabo por não cumprir. Descubro pequenas coisas que geram o meu conhecimento. Sinto o impacto das ondas {do mar} com o meu corpo. Tento ser sempre uma versão melhor de mim mesma. Desisto da negatividade que me arrasta como o vento o faz à areia. Recomeço a leitura do meu livro favorito, prazer momentâneo. Digo que vai ficar tudo bem, que é a vida, que tudo passa. { }. Infinitas vezes. Agora, daqui a pouco, futuramente. Deslumbro o brilho nos olhos de um estranho quando o sol de fim de tarde incide neles. Imagino o universo, as galáxias fora do meu alcance. Ouço o chilrear dos passarinhos, que sai das árvores, quando me debruço na varanda. Vivo o instante. Relembro o que é ser criança. Guardo a memória do meu avô num cofre de ouro protegido do agora e do além. Disperso as minhas ideias com o intuito de as cultivar como as sementes se dispersam com o vento e se cultivam. Acordo, olho para a janela e começa o meu dia.
Estou sempre fixada no presente, no agora, que me esqueço do que está para a frente. É assustador, ter o resto da nossa vida assim à nossa frente sem verdadeiramente nos apercebermos disso. Sou jovem mas tenho esse resto do meu longo caminho nas mãos, é suposto, brevemente, saber viver à minha conta, descobrir o quão difícil é realmente gerir sozinhos o nosso mundo, é continuar a aprender, mas sozinha. Sozinha não no sentido de não ter ninguém mas no sentido de que já não são outras pessoas que irão cuidar da mim mas sim eu de mim mesma, das minhas necessidades básicas, sou eu. Dona de mim mesma, mais dona do que nunca. Assusta mas também transmite liberdade, novos conhecimentos, a oportunidade de experienciar a vida por mim mesma. Estou a caminhar para o futuro e sinto receio, sinto ansiedade, sinto as energias positivas e negativas que é suposto sentir. E sonho. Sonho com esta vida tão paralela à minha que está a cinco segundos, cinco semanas, cinco meses, a um ano de distância. Apesar desta distância continuo não a focar-me no futuro mas no presente pois não há nada que afete mais o nosso destino como o que fazemos agora, no momento. O que está para vir nunca estará ao meu alcance então porquê focar-me no que não consigo alcançar quando tenho o presente nas minhas mãos? A vida são dois dias e ainda mal cheguei ao primeiro. É preciso continuar a caminhar.
Eu sei. Há dias em que tudo o que nos passa pela cabeça é desistir. Regressam memórias, matutamos nos mesmos problemas, a vida perde o interesse. Eu sei. Somos finitos seres que todos os dias passamos pelo mesmo. Uns conseguem viver com isso, outros não. É um ciclo. Um "ciclo vicioso". Também há dias em que nos sentimos enormes. A auto-estima aumenta, a pessoa de quem gostamos sorri para nós, o mundo torna-se um mundo melhor aos nossos olhos. Eu sei. Há dias e dias assim como há pessoas e pessoas. Mas e haverá vida e vida? Sim, não estou a escrever mal. Há vida em que apenas existimos, somos vazios, passaram a perda, a dor, o desconhecido por nós e com eles levaram o que nunca pedimos de volta: vida, de viver, de ser. É esta que nos faz levantar pela manhã, preparar para o dia, sentir, pensar. Eu tanto sou como existo. Muitos de nós são assim. Há vida e vida. Existem sempre duas versões de cada história e cada pessoa se adapta à sua. Pode até não ser uma versão má e outra boa como eu "idealizo" mas sim ambas boas só que apenas com destinos diferentes. Afinal somos seres livres não é? Assim o dizem. Assim escolhemos (as nossas histórias claro). Entendo que por histórias eu generalizo para tudo, existem duas versões para cada pessoa de amor, de beleza, de conhecimento, de tudo o que nós quisermos. Mas há sempre escolha mesmo que não seja uma "boa". Quem decide a tua história, a tua vida, os teus dias és tu, mesmo que o não vejas agora. E eu sei.
Sinto a tua falta e nunca realmente te tive. É irónico porque eu só não tenho o que eu não quero. E o que eu não quero acaba sempre por ser o que eu preciso. Penso precisar de ti. Mas pensar não é o mesmo que sentir, já dizia Hume. Penso muitas vezes que preciso de ti sabias? Claro que não sabes, nunca te o disse. Acho que nunca senti necessidade de te ter. Mas limito-me a ficar pelo acho porque nunca fui muito boa a decifrar sentimentos quando se trata de ti. Assim vou vivendo. Nesta luta (se é que lhe posso chamar isso) constante entre sentir e pensar (sobre ti). Acabo sempre por ocultar todas as conclusões a que chego porque no fim do dia só me tenho a mim para "agarrar", estarás sempre a uma distância impossível de mim. E eu nunca lidei bem com o impossível. Já tu eras o contrário e ainda o és, espero. Não quero que percas essa forca a que te agarras, sempre que as coisas que amas tentam escapar. Sei que a mim não me deixaste ir muito facilmente. (Será que me amavas?) Palavra demasiado forte para mim. E já um bocado clichê. (Mas isso é do uso que lhe damos.) Entre esta luta que sinto, penso acho que cheguei à conclusão que está na hora de a acabar. Não consigo continuar a prosseguir com o impossível. Porque o é. Tu "agarras-te" às coisas que amas e eu não as consigo manter. (E eu tenho noção de que só não consigo manter porque eu não quero.) A cada letra que teclo mais em paz eu me sinto. Acabo um pequeno capítulo da minha vida que ainda estava incerto. Espero que também sintas o mesmo. Tu sempre disses-te que nada é impossível e eu só torno possível o que eu quero. Adeus e muitas felicidades. (Porque é assim que se acaba uma despedida e é isso que eu pretendo que isto seja.)